quarta-feira, 20 de abril de 2011

Tangos e Tragédias por Hique Gomez

Lembro claramente a primeira vez que nos encontramos as margens da Recykla Gran Rechebuchyn, a Grande Lixeira Cultural da Sbórnia. Nossa querida terra natal a Sbórnia havia sido invadida. Nossa cultura estava ameaçada extinção. Nós fugimos e viemos parar no Brasil...

Já se vão muitos anos... Lembro muito bem na canoa de refugiados. Ele queria ir pra Iá eu queria ir para Iá... Eu fui para lá e ele foi para lá... Como estávamos na mesma canoa contrariadamente viemos parar aqui. Foi a primeira vez que percebemos que não combinávamos, e pensei “como vamos prosseguir???”
Minha memória guarda transparente os dias da crise em que chegamos no Brasil. O dinheiro era o Cruzado... A valorização os produtos nos supermercados era por hora, a desvalorização do Cruzado era por segundo.

Lembro que hoje de manhã senti saudades daquela crise financeira. Aquilo sim é que era crise. Os problemas aumentavam desde que ficou claro que não haveria como trabalhar com música no meio daquela crise, e eu pensava "Como vamos prosseguir? Fizemos alguns shows vazios em Porto Alegre e decidimos ir para o centro do país, onde fizemos muitos e muitos shows vazios. É claro, eu pensava, não combinamos... Como vamos prosseguir?

Até que um golpe de sorte nos jogou no programa do Jô Soares no SBT. O público adorou ver dois sujeitos que não combinavam contando suas histórias e cantando músicas antigas que não combinavam com o que se fazia na época.

Desde aí os teatros começaram a lotar. Daí surge para nós a maior definição de nossa carreira. Quando perguntavam qual o segredo do sucesso, nossa resposta era: "O segredo do Sucesso é o Fracasso!!!” Como vamos prosseguir se o segredo do sucesso da dupla é o fracasso?

Enfim fazíamos algum sucesso, mas como seguíamos não combinando eu pensava: “Como vamos prosseguir”? Os teatros começaram a lotar invariavelmente. Já tínhamos uma carreira, uma trajetória. Seria importante mantê-la, e esta questão foi crescendo dentro de mim. Eu buscava uma solução, não seria fácil... como vamos prosseguir? Nossas diferenças seguiam aumentando, continuávamos remando em direções diferentes.

Até que em meados do dia 15 de maio de 1991 às 15 horas e trinta minutos, ele me mostrou uma música que falava na busca da Verdadeira Maionese. Isso me trouxe uma esperança muito grande de que talvez nos conseguíssemos convergir...



Mas não, cada um foi procurar a Verdadeira Maionese da sua própria maneira. E a questão recrudesceu. Como iríamos prosseguir se nossas verdadeiras maioneses tinham ingredientes tão diferentes?
Bem, aí mesmo que a coisa ficou impossível. Como iríamos prosseguir se tudo conspirava contra? Bom... Fizemos uma versão do espetáculo para espanhol, fomos a outros países sem nenhuma perspectiva de continuar. Um certo sucesso está começando a estabelecer raízes na Europa, e a pergunta que do quer calar fala todos os dias na minha cabeça: Como vamos prosseguir?

No ano em que completamos 25 anos, seguimos sem nenhuma perspectiva de continuar, mas fizemos uma arte incrível para celebrar a data
. Como vamos prosseguir se chegamos a um ápice de excelência tão absoluto.

Ficamos amigos... Cultivamos respeito mútuo. Enfim, começamos a remar na mesma direção... Mas minhas manhãs são premiadas com a questão: Como vamos prosseguir se as divergências que nos trouxeram até aqui não estão mais presentes? Agora ficou realmente difícil. Como... Como vamos prosseguir?"